segunda-feira, março 18

O ônibus estava demorando a chegar. O terminal estava movimentado. Ao meu lado estava um cara grande, de cabelo raspado. Estava pensativo.

Não dei atenção a ele. Não olho para as pessoas na rua, elas tendem a começar diálogos.

Mesmo assim ele veio em minha direção:
"- E aí cara! Tudo bem?"

Por um momento fiquei pensando na possibilidade de já conhecê-lo. Logo concluí negativamente.

Ele falou sobre várias coisas. Eu não precisava responder. Ele apenas falava e falava, sem parar. No meio de várias outras coisas, três chamaram minha atenção:

A primeira é que o sujeito tinha um jeito de maluco mesmo, desses que você vê na rua todos os dias (aliás, ultimamente tenho visto um número maior desse tipo), mas era extremamente consciente.

A segunda foi a frase "O indivíduo por si só não consegue se compreender, como pode querer compreender o outro?".

A terceira foi a sugestão:
"- Cara, vc deveria se aposentar. Faz como eu: arranja uma empresa legal, trabalha uns dois, três anos... Depois você começa a se fingir de maluco no meio do expediente. Os caras te levam pra fazer uns exames e o médico diz que você pirou! É muito fácil! Claro que você precisa conhecer o médico..."

E então mostrou a carteira da previdência social. Depois finalizou:

"- Se quiseres é só falar comigo. Os médicos eu conheço, a cara de maluco tu já tens..."

Update:
O cara ainda disse que tinha estudado muito na vida. Sabia tudo sobre a Pangea, sobre anatomia humana e sobre o cérebro. Disse que foi ajudante de uma médico coordenador de algum curso de medicina do Paraná, e que esse sim era o único que tinha nível para conversar com ele. Conversavam muito sobre o Egito.