terça-feira, março 26

Certo, a história sobre o cara que precisava, desesperadamente, ir ao banheiro do ônibus.

O fato é que preciso contar como isso surgiu para fazer um mínimo de sentido.

Prefácio

Na volta para Blumenau, eu e a Jululi sentamos lado a lado, nas últimas poltronas, bem à frente do banheiro. A porta deste estava com algum problema e as pessoas tinham dificuldade para abrí-la e fechá-la. Faziam muito barulho para isso. estávamos tendo dificuldade para dormir. Ficamos de saco cheio de tantas pessoas indo no banheiro a cada 2 minutos e dissemos que começaríamos a cobrar um "pedágio"

Capítulo I - O final da história.

É madrugada. Todo os outros passageiros estão dormindo. Pelas manobras que o ônibus faz talvez o motorista também esteja. Vinícius precisa ir ao banheiro, desesperadamente, mas sente vergonha. Não quer acordar a todos.

Já não agüenta mais. Silenciosamente ele levanta. Sente-se abençoado por estar sentado na poltrona do corredor. Devagar, aproxima-se do banheiro e, cuidadosamente, tenta abrir a porta. Ela está travada. Vinícius examina atentamente e percebe que há um tipo de coletor de moedas instalado na porta. R$ 0,25. Ele põe a mão no bolso, rezando ter algum dinheiro. Feliz, retira a mão repleta de moedas e começa a selecioná-las. É uma tarefa diícil pois o ônibus balança muito e ele não quer acordar os colegas de excursão. Finalmente junta a quantianecessária e a deposita no coleto. Gira a alavanquinha e... uma bala! Uma bala!!! Ele queria abrir a porta, mas ganhou uma bala!

Pensa ter acontecido algo de errado. Novamente tenta juntar as moedas. Consegue facilmente, movido pelo desespero de precisar entrar. Moedas no coletor, giro da avanquinha e... outra bala! Não pode ser verdade! ele decide forçar a porta. Não acredita que está pagando e não consegue fazê-la funcionar. Mas o esforço foi em vão. A porta está realmente travada. Não tendo alternativas, decide procurar mais 25 centavos. Sucesso! Novamente as moedinhas são inseridas no coletor. Devagar, para ter certeza que fará certo desta vez, ele gira a alvanca e... mais uma maldita bala! Sem saber o que fazer, começa a puxar os próprios cabelos. Geme de medo, aflição.

Decide que vai arrombar a porta. Joga o próprio corpo contra o banheiro. Todos já estão acordados e lançam um olhar aborrecido a Vinícius. Ele não liga mais para as pssoas. Quer apenas fazer xixi! Chuta, empurra, cospe, cabeceia. Nada resolve. A porta não abre.

Despertado pelo barulho, Gilmar percebe que precisa ir ao banheiro também. Levanta calmamente de sua poltrona e anda na direção de Vinícius, que chora loucamente. Gilmar não havia acompanhado a origem de tanta agonia, e acha melhor deixar o amigo sofrer em paz. Depois perguntaria o que havia acontecio. Desvia daquele corpo desolado e, com um simples "jeitinho" no trinco, a porta abre. Ele entra e, com a mesma simplicidade, a fecha.

Vinícius não consegue acreditar no que acabou de assistir. Esfrega os olhos para liberá-los do embaçado das lágrimas. Levanta-se devagar, o olhar fixo na porta, com quem presencia um milagre.

Gilmar novamente abre a porta, com cara aliviada e assobiando. Vinícius não se contém: agarra o amigo pela gola da camisa e pergunta com voz grave e nervosa:

- Como!!! Como!!! Como diabos você conseguiu abrir esta maldita porta sem ao menos depositar uma moeda?! Diga, infeliz, ou acabo com sua raça!!!

Gilmar não entende a feição do amigo e responde assustado:

- Mas, Vinícius, fique calmo! O coletor de moedas não serve para abrir a porta, serve para comprar balas!

Vinícius chora como uma criança. Fios de baba entre seus lábios e um lamúrio. Desconcertado, ele senta no chão do ônibus, olhado para o nada.

Uma pocinha toma forma ao seu redor.