quinta-feira, agosto 22

Dois sujeitos - irmãos - chegam no escritório da madereira. Ali há um velho sentado, comendo tangerina e não dando a mínima para as duas novas presenças.

Um dos sujeitos é meu irmão mais velho, o outro sou eu.

- O senhor tem Imbúia?
- Não. [segue uma mordida na tangerina]
- Cedrinho, tem?
- Sim. [repete-se o ato]
- Queremos 6 sarrafos 6cm X 1,20m e 1 de 15cm X 2m.
- Ah... então escolham outra madeira, é melhor.
- Hmm... Tudo bem. O que mais o senhor tem aí?
- Candará. Qual o tamanho dos sarrafos?
- Seis peças de 6cm X 1,20m e...
- Não fazemos peças com menos de 2 metros.
- ... tá, pode ser.
- Cláudio! Vai lá mostrar a madeira pro garoto.

Meu irmão ficou no escritório. Eu fui ver a madeira. Achei-a muito clara e perguntei se não tinham outra, mais vermelha. Cláudio, bem mais simpático e comunicativo, disse que eu poderia levar Canjerana, mas que teria que recalcular o preço.

Voltamos para o escritório:

Cláudio:
- Ele quer Canjerana...
- É exatamente o dobro do preço.

Aceitei e voltamos para o depósito. Fiquei lá olhando o cara cortar a madeira e tal. Meu irmão continuava conversando com o senhor estranho. Terminado o processo de preparo dos sarrafos, voltamos. Quando entrei no escritório, o clima era completamente outro. Ao pisar no chão da sala, ouço uma voz animada:

- Então quer dizer que você é parente do velho Wilhelm Graes! Não Acredito! Trabalhou aqui... [voz saudosa, cara de quem está recordando algo, olhando para o nada]

E se passaram vários minutos agradabilísimos, com curtas lembranças. Meu avô havia trabalhado com este senhor, cinco décadas atrás. Trazia toras de madeira, pelo rio ou pela rodovia (que imagino precária naquela época).

É bom quando percebemos que alguém nos trata bem pelos simples fato de sermos parentes de alguém. Um sentimento de orgulho, acho. Não sei se é bm isso. E sou feliz por poder dizer que isso já me aconteceu algumas vezes.

Gostaria de ter participado mais da história da minha família. Meus irmãos são bem mais velhos que eu, e sempre fui mero espectador das decisões. Isso até o falecimento da minha mãe. Depois disso comecei a ter que decidir também e não está sendo muito fácil. É como pegar um ônibus em movimento.

Hoje, três anos sem ela.